
“Coimbra, uma mostra de tradição portuguesa”
«Coimbra tem mais encanto na hora da despedida» cantam os jovens universitários ao pé das escadas da Sé Velha, no coração da cidade na noite da serenata final ao terminar o ano lectivo, um fado entre outra série de fados de espírito melancólico que traz à alma de quem ouve uma série de emoções inexplicáveis. Assombra ver a praça da Sé cheia de jovens, e ainda melhor, trajados com as capas negras que os identificam como universitários, essa noite torna-se uma experiência única e irrepetível. Os finalistas, com lágrimas nos olhos recordam os anos lá passados e bem vividos, as experiências positivas, os êxitos e os fracassos, os amores e a dor das chamadas noites escuras. Os caloiros olham para aquela multidão com o desejo de passar um bom serão cheio de cerveja, música, amigos, copos, e de não voltar a casa antes das dez da manhã do dia a seguir… os olhares não são os mesmos, a caminhada feita é diferente, o momento da vida dos finalistas e dos caloiros têm rumos diferentes, embora tudo pareça semelhante, as almas experimentam coisas diferentes: uns chegam à cidade e gostam do caminho que estão prestes a começar, outros choram a despedida daquela que foi a sua morada ao longo de vários anos. Só na hora da despedida é que a mágoa da saudade se faz sentir no coração dos jovens. É precisamente esta uma das razões pelas quais Coimbra é também chamada a Capital da Saudade!
É assim que posso descrever o espírito que se experimenta na cidade de Coimbra naqueles dias de festa da Queima das fitas, onde se respira o ar universitário (para além do cheiro a cerveja que é típico nestes dias em toda a cidade) e onde a alma se identifica com a alegria e a jovialidade dos jovens, cheios de sonhos e esperanças, com uma vida que apenas começa o seu percurso.
Morar em Coimbra é uma experiência rica, seja pela gente que lá mora, como pelas tradições que se mantêm vivas na sociedade. As festas à volta da Universidade (um dos símbolos próprios da cidade) são uma forte definição do que é a cultura conimbricense, assim como a frescura dos seus monumentos como a Sé Velha e a Nova, a Câmara Municipal, Santa Clara a Velha, os muros da cidade velha, a Igreja da Santa Cruz, o edifício do Seminário Maior, o Jardim da Sereia (entre muitos), assim como a luminosidade do seu belo rio, o Mondego, nascido nas fontes da Serra da Estrela. Tudo isto faz de Coimbra uma cidade particular entre muitas, com traços particulares e riqueza única no país.
Descrever a cidade de Coimbra é tentar descrever uma casa, um lar, um lugar digno de colocar o coração e a vida, onde se deixa uma parte da alma, onde se aprende a ser português, onde a paixão pelas artes e as ciências têm a sua génese, onde a literatura torna-se uma fonte cheia de inspiração, onde aprendes nas aulas da vida com o Padre António Vieira, Miguel Torga, Camilo Castelo Branco, José Saramago, Fernando Pessoa; lugar que ensina amar as tradições universitárias, amar o fado ali é quase obrigatório, é natural e espontâneo, deliciar-te com as serenatas, sofrer com o ar de mágoa que se traz no coração e que só nesta bela cidade temos a oportunidade de tirar cá para fora.
Só quem lá pôs o coração, só aquele que se deixou apaixonar pela cidade, pela cultura e pelas tradições é capaz de verter lágrimas ao deixar esta bela pérola portuguesa e terra de sonhos. Lembrar as ruas da cidade cheia de jovens trajados, os cafés cheios de universitários com discussões filosóficas ou desportivas, as fachadas das repúblicas quase a cair de velhas, os caminhos empedrados e escorregadios nos dias de chuva, as procissões do Corpo de Deus pelas ruas da cidade, as noitadas ao pé do Mondego, e muitas coisas mais fazem de Coimbra uma cidade especial.
Portugal, país mítico, cheio de cultura e tradições, é uma das maiores riquezas culturais na actualidade, é uma fonte de informação sobre o mundo, a história, a vida. Falar deste país é falar duma grande cultura; embora o território seja pequeno em comparação com outras grandes nações, a singularidade da terra lusa é peculiar. Coimbra está no centro do país, é quase como uma síntese e uma ponte entre o norte e o sul, um ponto de encontro, onde jovens algarvios fazem amizade com os portuenses, onde os transmontanos descobrem as diferenças com os beirões, onde a cultura portuguesa luta por se manter viva, onde a língua portuguesa tenta manter-se viva e fiel à sua história. Coimbra, terra de sonhos e de tradições: Como esquecer as tuas festas? Como não lembrar o dia de Santo António, ou de São João? Como não visitar o túmulo de Don Afonso Henriques? E a Quinta das lágrimas que recorda o amor da Inês e do Pedro, amor que cheira a eternidade? Como não visitar as zonas do Baixo Mondego tão férteis? Como tirar da mente a imagem dos campos de arroz a caminho da Figueira da Foz e das praias e matos que te rodeiam? Como não trazer no coração as vilas e cidades que te circundam como a Serra do Luso, Condeixa, Soure, Mira? É quase impossível tirar-te da mente, oh Coimbra.
No entanto, nunca percas essa tua vontade de descobrir o mundo, não deixes de ser solo universal, terra de todos, portal do mundo e janela da ciência, terra fecunda de santos e de homens dignos de todo respeito; e sobretudo, oh Coimbra, jamais abandones a tua identidade, ser essa terra de sonhos que ilumina a cultura universal e fonte de inspiração.